terça-feira, 9 de março de 2010

Escolhendo a literatura


“Ao escrever, o escritor deve solicitar um pacto com o leitor, que ele colabore em transformar o mundo, a sua realidade...” – Sartre


“Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca idéias.” - Pablo Neruda


Não comecei como escritor, mas como leitor. Antes de pensar em escrever, li muito, conversei sobre idéias com outras pessoas, observei a vida à minha volta e, principalmente, fiz silêncio para olhar para dentro de mim mesmo! Escrever surgiu naturalmente depois disso. Mas a idéia nunca vem pronta. No início é apenas uma inspiração, um embrião de idéia, que começará a tomar forma quase sempre aos poucos, à medida que a gente começa a transcrevê-la para o computador, ou o papel, ou mesmo um quadro de pintura, ou uma fotografia.

Por isso, pelo menos para mim, escrever, pintar, fotografar, são atividades para fazer sem pressa, sem ansiedade por resultados rápidos. Geralmente, levo mais tempo refletindo sobre a mensagem, a idéia ou idéias sobre as quais vou escrever, antes de materializar estas idéias na forma de texto.

Costumo encontrar a inspiração no dia a dia mesmo, à minha volta, por isso escrevo como uma forma de auto-conhecimento, sobre o que sinto e sobre minhas reflexões, como um diálogo comigo mesmo, uma maneira de deixar mais claras as coisas para mim. Quando começo, se o que irá resultar deste encontro comigo mesmo será um livro infantil ou para adultos, não tenho como saber, nem mesmo me preocupo com isso. Às vezes, quando a mensagem está clara ela ‘transborda’ para o papel quase naturalmente, mas isso é raro. Normalmente, tenho de ‘brigar’ com o texto, escrever e reescrever várias vezes, por isso é bom não ter pressa, nem preguiça, para escolher bem as palavras, as idéias, os conceitos até que tudo resulte numa forma harmônica, que é aquele limite do próprio talento e competência, quando você não consegue fazer melhor, o que não significa que outra pessoa, com mais talento do que você, não consiga melhorar quando você próprio já não consegue.

O papel da crítica pode ser muito importante no aperfeiçoamento do texto, afinal, como diz Alexandre Herculano "eu não me envergonho de corrigir meus erros nem de mudar minhas opiniões. Porque não me envergonho de raciocinar e aprender". No início, as críticas me incomodavam, principalmente quando percebia uma pontinha de maledicência. Depois, descobri que, mesmo quando invejosas, as críticas me ajudavam a lançar um novo olhar sobre um texto que antes eu considerava pronto e acabado. Então, passei a me relacionar de forma mais fraterna com as críticas e não de forma reativa. Claro, sempre me reservo o direito de ‘espernear’, quando a crítica é muito injusta, mas faz parte do meu processo de convencimento. Lembro Antoine de Saint-Exupéry em seu livro O Pequeno Príncipe, que interpretei no teatro estudantil: “Disse a flor para o pequeno príncipe: é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas.”

Dependendo da mensagem, uma forma pode ser melhor que a outra. Ás vezes a idéia é boa, mas a forma não foi a mais feliz. O autor pode escolher entre a prosa, a parábola, a crônica, versos, romance, biografia, etc. e assim que tiver definido, ainda existirá um árduo e longo caminho à frente até que um texto esteja no ponto para se chamar de livro! A sensação é que o autor fica ‘grávido’ do livro e precisa se livrar dele, ou o livro se livrar do autor... Alguns livros saem num ritmo mais rápido, outros num ritmo mais lento, mas uma coisa é certa, dificilmente um texto fica pronto da primeira fez, por mais talentoso que seja um autor.

Em relação à mensagem do autor, um alerta, livro algum, por mais especial que seja, mesmo este daqui, não caminha nem decide por ninguém! Se ninguém tirar o livro da estante, ali ele permanecerá imóvel, sem ir a lugar algum. Quem faz as coisas acontecerem são os leitores. Os livros podem ajudar em nossas escolhas, mas não escolhem por nós. E nem sempre o que deu certo ou errado com o autor, significa que dará certo ou errado com o leitor, pois cada um tem seu jeito próprio de viver e decidir, e ninguém é capaz de saber a capacidade do outro em suportar a dor dos ônus ou a alegria dos bônus de suas escolhas, a não ser a própria pessoa!

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